quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Elaboração de Projetos

 


 

Tecnologia educativa e currículo: caminhos que se cruzam ou se bifurcam?



Há mais de um quarto de século que se vem consolidando uma concepção de Tecnologia Educativa (TE), entendida não como o simples uso de meios tecnológicos mais ou menos sofisticados, mas como uma forma sistemática de conceber, gerir e avaliar o processo de ensino aprendizagem em função de metas e objetivos educacionais perfeitamente definidos. Nesse sentido, a TE interliga-se com a Teoria e Desenvolvimento Curricular (DC), onde encontra a cobertura conceitual para a sua forma de atuação no terreno educativo.
No entanto, no panorama pedagógico ocidental, os estudos adstritos a estes dois domínios estão representados por programas acadêmicos e de investigação perfeitamente consolidados e identificados como espaços de conhecimento pedagógico independentes, às vezes mesmo antagônicos, que, entre outros efeitos, propiciaram a que a TE por um lado e o DC pelo outro, concretizassem propostas teóricas e ações práticas nem sempre coincidentes.
Na era da globalização, em que é inquestionável o poder educativo das TICE, mas em que se sabe também que esse potencial depende do modo como professores e alunos as inserem no processo didático, parece importante lembrar que a tecnologia só faz sentido se usada com intencionalidade, ou seja, se corretamente integrada na concepção e desenvolvimento de todo um projeto curricular. Urge, pois, que estes dois domínios científicos se deem as mãos e definam linhas de atuação concertadas e coincidentes.
Onde se cruzam TE e Currículo
Sendo guiado por uma finalidade, um projeto curricular pressupõe sempre uma determinada concepção acerca do que é a EDUCAÇÃO (um ideal educativo), porque é com base numa meta que se concretiza um qualquer projeto; é precisamente aqui, na concretização de uma mesma finalidade educativa, que a TE se cruza com o Currículo, integrando-o, constituindo-se como que o seu braço "operacional" para as questões da comunicação educativa: (A TE) analisa o currículo (prescrito, apresentado e realizado) em termos comunicacionais (códigos, discursos, linguagens, direções e contextos) e preocupa-se em investigar o desenho das estratégias comunicacionais tendo em vista a intervenção no processo educativo com um sentido de otimização, ou seja, conseguir o melhor em função dos objetivos propostos pela comunidade educativa.
Nessa ordem de ideias, faz todo o sentido analisar o percurso e a evolução do domínio científico da TE articulado com a perspectiva curricular, já que este exercício nos pode ajudar a obter a visão mascroscópica da realidade educativa em que a TE se insere e na qual atua. Por isso se justifica uma abordagem, ainda que breve, às principais teorias curriculares salientando a forma como evoluíram acompanhando a reflexão paralela em torno da natureza do conhecimento e da aprendizagem (relação com os paradigmas educacionais), e concretizando, em cada momento desse processo evolutivo, um projeto educativo específico, uma concepção de comunicação (relação com a TE em sentido amplo) que se refletiu nas diferentes funções/papéis que os média tecnológicos foram desempenhando no processo didático (relação com a TE num sentido restrito),

A TE à luz das Teorias Curriculares.

Kemmis (1988) propõe uma classificação das teorias curriculares em técnicas, práticas e críticas. As teorias técnicas expressam o currículo como um plano estruturado de aprendizagens centradas nos conteúdos - um "texto" , ou seja, "um corpo de conhecimentos a transmitir e a educação o processo pelo qual esses conhecimentos são transmitidos ou entregues aos estudantes com base nos métodos mais eficientes possíveis".
O objetivo é a obtenção de um resultado - daí a metáfora do currículo como um "produto" -, e as atividades de aprendizagem são organizadas em função de objetivos operacionalizados num plano tecnicista previamente elaborado e determinado.
A teoria prática assume uma posição radicalmente distinta, porque olha o currículo como um processo, ou seja, "não como uma coisa física, mas como a interação que ocorre entre professores, alunos e conhecimento, ou seja, aquilo que efetivamente acontece dentro de uma sala de aula". Caracterizada por um certo discurso "humanista" e uma prática "racional", esta visão do currículo é o resultado das intensas discussões curriculares que ocorreram na década de 70 e também de uma nova forma de encarar o processo da comunicação educativa resultante da introdução e aplicação das teorias sistêmicas, da cibernética e da comunicação ao processo do ensino e aprendizagem.
Para Pacheco (1996), o interesse emancipatório da teoria crítica perspectiva uma relação diferente entre a teoria e a prática: é a práxis (a ação reflexiva) que conduz à emancipação e, por outro lado, à crítica da ideologia que enforma todo o projeto curricular. A este respeito, considera Grundy (1987) que a "pedagogia crítica vai muito aém de situar a experiência educativa no universo do aprendiz: é um processo que tem em conta ambas as experiências do aluno e do professor, e em que, através do diálogo e da negociação, se vão reconhecendo os seus aspectos problemáticos.
No tocante ao papel dos média tecnológicos neste modelo de desenvolvimento do currículo, presume-se que sejam potenciais ferramentas a serviço da emancipação dos diversos atores sociais, o que implica responsabilizar e descentralizar o nível de decisões, uma vez que "é no domínio da decisão, da avaliação, da liberdade, da ruptura, da opção que se impõe a responsabilidade (...) a autonomia vai-se construindo0 na experiência de várias inúmeras decisões que vão sendo tomadas".

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